A propósito do início das aulas para as crianças/jovens do nosso país outro dia vi uma pequena reportagem (ou melhor, o início da reportagem) num dos programas da manhã dos nossos canais generalistas onde o tema da conversa era "tendências para o material escolar". Confesso que fiquei um bocado intrigada com tal coisa. Num pais claramente em crise, em que há não sei quantas famílias no limiar da pobreza, em que todos os anos se fala da exorbitância de dinheiro gasto pelos pais no início do ano letivo com os livros e restante material vem-se agora falar de tendências de material escolar!!? Apelar ao consumismo e, pior ainda, que não haja reciclagem daquilo que ainda está bom dos anos anteriores!?
Não é ser purista, snob ou mesmo forreta mas para mim se há coisa que não faz sentido falar é em tendência para cadernos, lápis, porta-lápis, capas e afins. Se nas mochilas eu ainda consigo compreender no restante custa-me um bocado e olhem que eu era daquelas que delirava com o início do ano letivo e com a ida às compras do material escolar. Mas eu também era daquelas que, muitas das vezes comprava cadernos simples e personalizava-os à minha maneira (e as saudades que eu tenho de encadernar os meus cadernos e livros para que eles durassem mais tempo em boas condições); era daquelas que antes de ir às compras juntava todo o material do ano anterior para perceber o que ainda estava bom e aquilo que era preciso renovar; era daquelas que punha a parte prática (e económica) acima da parte estética. Para mim pagar 5 ou 6€ por um caderno era um exagero quando havia outras ofertas bem mais em conta (e igualmente bonitas e boas). Se as pessoas tiverem muito dinheiro até acho bem que o gastem também nestas coisas mas tendo em conta que às horas que o programa dá e o público que assiste ao programa (ou são pessoas mais idosas e por isso, já não tem filhos em idade escolar, ou pessoas desempregadas que muitas vezes vivem a contar os cêntimos para saber se vão ter dinheiro para pôr comida na mesa até ao final do mês) custa-me compreender que se dê destaque a este assunto.
Se não tem com que preencher o programa alertem para os problemas que podem acontecer em contexto escolar (e também para estratégias para os solucionar), apelem à noção de solidariedade na altura de emprestar os livros que já não são precisos, divulguem iniciativas que felizmente já existem para ajudar as famílias na aquisição dos livros e material (para ver se outros seguem a mesma ideia e mais famílias são ajudadas), falem da escola inclusiva, falem da necessidade do envolvimento de todos os agentes educativos na socialização e aprendizagem da criança. Sei lá, tantas coisas mais interessantes para falar do que um assunto que interesse a meia dúzia de pessoas com poder económico e que podem ligar a este tipo de coisas.
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